Um ano de Rede ao Redor



(apresentação do Rede ao Redor durante o Congresso da UFBA)



O projeto Rede ao Redor está muito próximo de completar um ano de existência, então, para começar os festejos e também para apagar qualquer dúvida que as vezes aparecem, resolvemos fazer esse texto contando um pouco da nossa história e de nós mesmos. 

O projeto Rede ao Redor: cartografia de iniciativas juvenis em arte, cultura e comunicação em Salvador foi um projeto idealizado por Carlos Bonfim, professor da UFBA. Esse projeto tem uma relação quase de filho e pai com outro projeto da UFBA, o Latitudes Latinas. Ambos os projetos são vinculados ao IHAC (Instituto de Humanidades, Artes e Ciências prof. Milton Santos).

Como já foi dito, esse projeto está bem próximo de completar um ano. E ao longo dessa breve história ele começou bem simples e foi se expandindo e se tornando mais complexo. Em um primeiro momento começamos esse processo de cartografia de modo mais tímido, estávamos começando a utilizar o questionário e a identificar quais eram seus pontos positivos, negativos, o que poderia melhorar e quais as melhores questões a se perguntar para alcançar o nosso objetivo (que era fazer um mapeamento das iniciativas culturas e traçar um perfil das ações e dos agentes culturais). Esse primeiro momento demorou mais do que imaginávamos: cerca de três a quatro meses. Durante esse processo tivemos que refazer o curto mapeamento que já tínhamos iniciado, pois o questionário anterior não atendia as nossas demandas. 

Passado esse momento, começamos a discutir como iríamos efetuar esse mapeamento. Se seria por setor da cidade, ou através do contato mais próximo. Então resolvemos seguir o mapeamento de modo que cada integrante buscaria as iniciativas culturais que circundassem a sua vivencia, seu bairro, sua região. No entanto, desde então se evidenciou a necessidade dos integrantes do "Rede" de compor os espaços onde as iniciativas culturais estavam se dando, para com isso se integrarem com a cena cultural da cidade e ter acesso a mais grupos culturais.

O Rede também identificou a necessidade de fazer mais. Tendo em vista o grande trabalho que é feito na cena de Salvador, um trabalho de cultura que realmente salva vidas e enriquece os espíritos e as mentes, nada mais justo do que tentar ajudar de alguma forma. Foi a partir dessa reflexão que o Rede ao Redor viu a necessidade de criar um blog e uma página no Facebook, afim de publicizar as ações culturais realizadas na cidade, mas sobretudo na periferia. Assim, o projeto também passou a dar um feedback aos coletivos após o mapeamento. No blog nós postamos textos falando sobre as iniciativas, sobre os grupos e sobre eventos. E no Facebook não é diferente. Atualmente, a página do Facebook do Rede ao Redor possui 200 seguidores e um alcance em média de 900-1100 perfis.

Durante esses quase onze meses, nós conhecemos iniciativas grandiosa e pessoas fantásticas, mas sobretudo muitíssimos talentos. Muitos desses talentos são de deixar qualquer um entorpecido. Fizemos amigos, mapeamos cerca de 100 iniciativas, estreitamos relações e nos emocionamos. Na nossa pesquisa vimos despontar as iniciativas voltadas a literatura, como também linguagens artísticas integradas. No entanto, agora é hora de lapidar esses primeiros resultados da pesquisa, mas também ampliar o mapeamento, como enunciamos na nossa apresentação durante o Congresso da UFBA 2017.

Além disso, como o nome não engana - Rede ao Redor, uma das idéias com o mapeamento era incentivar o estreitamento das relações entre coletivos e fomentar diversas formas de intercâmbios. O objetivo era realmente contribuir para a formação de uma "rede" cultural forte na cidade de Salvador. E, tendo em vista essas ambições, o Rede criou um novo projeto chamado Encontro de arte nas/das Periferias. Esse projeto consiste em uma amostra de arte periférica realizada pelas iniciativas culturais em seus respectivos bairros. Esse projeto envolve o grupo Juventude Ativista de Cajazeiras (JACA), o Centro Cultural de Plataforma e a Biblioteca Comunitária do Calabar que durante as edições passaram a se visitar e a estreitar relações promovendo intercâmbios. O Encontro de arte nas/das Periferias já está caminhando para sua quarta edição, sendo que ele já foi realizado em Cajazeiras, Plataforma e no Calabar, e sua próxima edição será em Itapuã.

Paralelamente ao mapeamento, acompanhando e estudando o cenário cultural na cidade e sobretudo na periferia da Salvador, conseguimos visualizar um processo de ressignificação e empoderamento extremamente forte. Levando se em conta a atual estruturação das relações de poder na nossa cidade, sabemos que só quem tem força para dizer algo que seja crível é o setor da grande mídia, que é dominada pela parcela mais rica da nossa sociedade. Dentro da nossa realidade são os meios de comunicação que dizem o que é, e o que não é em determinado local. Ao passo que as pessoas que residem no espaço em questão são invisibilizadas. Esse poder da grande mídia, que tem seu caráter simbólico, acaba por estruturar a sociedade. Contudo, com as reiteradas associações da criminalidade com os corpos pretos e com as regiões periféricas, o discurso da mídia passa a criminalizar a juventude negra, colocando-a a merce do aparato policial estatal. Com isso, esse discurso acaba por legitimar mortes entre a juventude negra, opressão e violência exacerbada. Entretanto, esse movimento cultural que vem borbulhando na periferia de Salvador está promovendo um verdadeiro levante frente a esse posicionamento preconceituoso da mídia. A periferia de Salvador já não aceita  que um grupo midiático de fora do bairro tenha mais respaldo e autoridade para falar do próprio bairro e das pessoas residem nele. Esse movimento cultural, do qual nós somos testemunhas, está dando uma aula de empoderamento comunitário e está mostrando factualmente que não é a base de violência que se faz a periferia, mas através de muita arte, muito talento e muito luta, resistência e amor. É claro que existe crimes, assim como em qualquer outro lugar, mas não é ele o traço de determinação do gueto.

Portanto, dentro desse processo de enfrentamento simbólico, o Rede ao Redor busca se unir às vozes que se levantam contra o preconceito e a opressão. Estamos acompanhando essa luta por um ano e esperamos poder continuar por muito mais tempo. 

Concomitantemente, o Rede ao Redor foi convidado para discutir e refletir sobre a seguinte frase: "
quem vai contar a nossa história ?" O convite foi realizado pelo Festival Internacional da Artes Cênicas da Bahia (FIAC) e a temática possui relação com o que foi abordado anteriormente. Essa discussão será logo após o espetáculo "Godó, o mensageiro do Vale", no teatro Gregório de Matos, as 18 horas do dia 29/10. Compareça e participe da discussão !!!

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